Eu me senti enganado pela vida.
Terminei meu casamento de oito anos pra ficar com o amor da minha vida, e ela fugiu.
Hoje eu entendo seus motivos.
Imagine-se acordado depois de anos, o mundo tem outra cara, as pessoas são diferentes, a tecnologia, a cidade, o país. Você descobre que muitas pessoas morreram, você percebe que está perdido.
Agora imagine-se tendo reencontrado o amor de sua vida, e ela vai embora sem te dar chances de dizer mais que um olá.
Dessa vez eu decidi não surtar. Toda a minha vida passei tendo surtos psicóticos e não obtive lucros. Então, foda-se, pensei, vou tocar a vida.
Com o divórcio, o Juizado decidiu que minha filha ficaria com a mãe e eu teria direito de visita-la quando bem entendesse.
Nesse mesmo período, Marcela reencontrou o amor da vida dela também (irônico, não?).
Ródeo, um fazendeiro do interior, dono de cabeças de gado e terras. Ela namorou com ele na adolescência e eles se separaram por que Ródeo foi para outro país disputar torneios de montaria.
Minha filha com a mãe, meu filho no exterior e meu cachorro morto. Aquela casa me parecia inútil e cheia de recordações que eu não precisava.
Assim, fomos Mark e eu morar num condomínio novo da cidade.
Pessoas novas, mulheres que eu ainda não tinha pegado, meu amigo e eu vizinhos e ninguém pra nos dizer o que fazer.
Foi uma época de ligar o Foda-se mesmo, eramos felizes, eramos bêbados. Jogar, beber, comer, flertar. Era nossa rotina. E de que mais um homem precisa?
Conhecemos, inclusive, um cara de quem não posso deixar de citar.
Severo Prince Snape. Um cara sinistro, do mal, mas gente boa depois que se conhece.
Ele era nosso vizinho. Usava uma capa, um cabelo ensebado e vivia fazendo chover. (é, o cara era sinistro).
Uma vez o Mark foi até a casa dele, (eu nunca me atrevi), e voltou dizendo que tinha livros de bruxarias, um caldeirão sinistro e coisas do tipo.
Certamente o Mark devia estar mais bebado que de costume.
Foi uma época feliz.
Foi feliz até que o Mark decidiu se casar,
Sei não, mas acho que ele foi enfeitiçado.
Certo dia ele apareceu com uma hippie e os dois começaram a morar juntos e a vender os móveis.
Colocaram uma placa de "vende-se tudo" na porta do Ap e vendeu tudo mesmo.
Televisão, rádio, sua guitarra, roupas, discos, e quando não havia mais nada pra vender, começou a vender flores.
Sim, acredite. Bom, eu nunca acreditei de verdade...
O cara perdeu tudo, porque o dinheiro das flores, obviamente, não dava pra pagar as contas e a dona moça não deixava ele trabalhar.
É isso que faz um bom chá de cogumelos e uma mulher mais louca que o efeito dele.
Bom, essa história me fez desviar a atenção da minha vida, que estava na realidade caótica.
Depois de um tempo, sem dinheiro, o Mark acordou pra vida e largou da moça das flores, voltando assim a trabalhar e recuperando as coisas que perdeu.
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