Era uma manhã normal, daquelas em que se quer morrer e não levantar da cama nunca mais.
A Marcela estava na cozinha, meus filhos gritavam como se fosse 3 da tarde.
Levantei, esfreguei os olhos, olhei o relógio, (quis matá-lo) e me arrastei até o banheiro.
Pronto, ouvi minha mulher dizendo algo como: "o pai de vocês está atrasado de novo pro café".
Disse bom dia pra todos, um por um cumprimentando-os e fui ligeiramente interrompido pelo telefone.
Minha mulher parecia apreensiva, olhava pra mim, rabiscava algo no bloco de anotações, falava baixo como se estivesse pensando com a boca.
Eu peguei meu jornal, folheei até as páginas de Gastronomia, me servi do café, mas não conseguia desviar a a atenção daquela conversa estranha.
Meu cachorro, como de costume, pulou no meu colo, lambendo toda a minha cara e sugando o café doce da minha boca, meu filho me chamava a atenção, provavelmente pra pedir dinheiro, Clarice jogava comida por toda a cozinha e ria alto.
Enquanto eu empurrava meu cachorro, salvava Clarice do dilúvio de papinha e puxava a carteira pra atender Junior, vi do corredor Marcela acenando e me chamando pra perto dela.
Ela desligou o telefone, e entramos no quarto, salvos da terceira guerra mundial na minha cozinha.
De um súbito, Marcela me diz: Seu amigo está vivo.
Eu não entendi muito bem e a mandei repetir, gentilmente como: Tá ficando louca?
- Se lembra que vimos no jornal uma matéria sobre um homem que a família pagou pros cientistas ressuscitarem? Sobre o DNA e mais umas coisas que não lembro?
Afirmei com a cabeça e a fiz prosseguir.
- Mark é esse homem!
- Oh senhor do Whisky ! Você tá falando sério?
- Tão sério quanto poderia.
Não falei mais nada, não perguntei nada. Se Mark estava vivo, eu sabia onde encontra-lo.
Deixei minha família em casa e corri para a casa de Guita.
Jim correu abrir a porta, eu nunca a ví tão feliz. Ela me abraçou e disse: Ele voltou, tio!
Quando o vi, acho que foi quando caiu a minha ficha. O cara estava morto até ontem. Será que é gelado?
A cena foi inacreditável. Mark estava no sofá, com seu filho James no colo, sua filha Hinnata do lado, um copo de Vódka na mão e sua mulher em pé, observando.
Apreensivo, me certifiquei de que ele tinha consciência do ocorrido.
Abracei o mano, e fiquei com eles o resto da tarde.
Por fim, todos nós o tratamos como se tivesse chegado daquela viagem e apesar dos médicos afirmarem com toda a certeza de que ele se recorda de tudo, nunca tocamos no assunto.
Naquela noite decidimos comemorar. Fomos todos ao restaurante, minha familia e a dele, e na volta deixei Marcela e as crianças em casa e voltei para a casa do Mark com eles.
Bebemos, jogamos, conversamos, bebemos mais, e ficamos mais pra lá do que pra cá.
A conversa chegou em Liza, (eu me perguntava se poderia fazer o mesmo com o corpo dela), e em nossas vidas.
Mark chegou a conclusão de que não era mais um homem feliz em seu casamento e decidiu contar para Guita.
Ele se levantou, caminhou até a porta e gritou: Guita, quero divórcio!
Voltou pra mesa e se serviu de mais Vodka, como se nada tivesse acontecido.
Eu me perguntei se ele tinha voltado mais louco da morte, pois, minutos depois, seu filho James apareceu na porta chorando.
O resto da noite foi uma comoção de filhos sem fim.
Eu decidi levar as crianças pra minha casa e deixar que os dois se acertassem sozinhos.
No dia seguinte Mark se muda para uma casa no centro e dá entrada no divórcio.
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