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segunda-feira, 9 de julho de 2012

A família Ahu, por baixo dos panos.

 Eu nunca fiz questão de ter nenhum tipo de contato com minha família.
 Minha mãe era uma cobra, e meu pai, por mais que nós nos dessemos bem, estava sempre do lado dela, por mais errada que ela estivesse.
 Meus irmãos, viviam num mundo diferente do que eu, quando tinha a idade deles.
 Minha mãe dava, descaradamente, preferencia ao João Marcos, deixando assim, Maria Fernanda mais livre.
 Sempre tivemos um bom relacionamento ela e eu.
 Quando eu estava na cidade, sempre a visitava e saiamos dar um rolê por aí.
 Meu irmão, por outro lado, fazia pouco caso das minhas visitas e de minha pessoa influenciado por minha mãe.
 Na adolescência, Maria Fernanda passava temporadas em minha casa, ela fez uma grande amizade com Jim Root, e viviam saindo juntas.
 Aos quinze anos, Fer me procurou no bar, e me disse que precisava muito conversar.
 Levei-a até o escritório e a ouvi.
 Ela me confessou sua, totalmente visível, homossexualidade.
 Eu a apoiei, e lhe instrui a não contar de imediato aos nossos pais. Lhe disse que a escolha era dela, e eles não tinham que saber, de certo que mamãe não aceitaria e papai acataria qualquer absurdo que ela decidisse.
 Os anos passaram, e João Marcos se casou com a então prefeita da cidade Ana Júlia, fazendo com que minha mãe se tornasse ainda mais insuportável e mesquinha.
 Ambos com dezoito anos, Marcos casado e Maria Fernanda ingressando na faculdade, minha mãe começou a pressioná-la a respeito de namorados e casamentos.
 Ela se peguntava o porque Maria Fernanda nunca havia levado um namorado para conhece-la e passou a arrumar pretendentes para ela.
 O que minha mãe não sabia era que dois anos antes da faculdade Fernanda havia conhecido Beatriz e namoravam as escondidas desde então.
 Soube depois, que num jantar de família (do qual não fui convidado), nossa mãe convidou um primo de Ana Júlia para conhece-la, e isso a irritou ao ponto de confessar aos berros seu verdadeiro eu.
 Meu pai, decerto, ficou neutro na situação, dando apenas apoio para que Fernanda comprasse uma casa, já que minha mãe a expulsou.
 Minha irmã então se casou com Beatriz.
 Ambas faziam faculdade e então montaram um pequeno negócio para poderem viver.
 Eu ajudava como podia, inclusive numa coisa considerada loucura por muitos.
 Já fazia quase dois anos que elas estavam casadas, inclusive de papel passado, e tentavam adotar uma criança.
 Como meu irmão era casado com a prefeita e minha mãe abominava essa relação ele sempre deu um jeito de não permitir a adoção.
 Um belo dia, minha irmã me telefonou e me pediu pra ir até sua casa.
 Depois de muitos rodeios ela finalmente me disse o motivo do convite.
 Elas queriam tentar uma inseminação artificial, mas não conheciam nenhum doador que se aproximasse fisicamente com minha irmã.
 Depois de alguns dias pensando, eu aceitei de bom grado fazer minha irmã feliz.
 Sua companheira Beatriz foi quem recebeu o esperma e nove meses depois nascia mais um Ahu no mundo.
 Algum tempo depois foi um primo de Beatriz quem doou o esperma para Maria Fernanda, afim de que tivessem mais um filho.
 Depois disso minha mãe nunca mais permitiu que Maria ou eu entrássemos em sua casa.
 Ela nunca conheceu os netos e nos retirou de seu testamento.
 Quando ela morreu, meu pai pode finalmente conviver com seus filhos e seus netos, de quem era proibido pela minha mãe. Ele viveu apenas quatro anos a mais que ela, mas foi suficiente pra recuperar um pouco do tempo que perdeu.
 Meu irmão vive até hoje à sombra da mulher e minha irmã agora viúva de Beatriz, que morreu num acidente de moto à dois anos, cuida dos filhos e é dona da maior rede de salões de beleza do país.

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